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O novo ouro branco e a extinção dos elefantes africanos

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Elefantes africanos da floresta (Loxodonta cyclotis) saem da floresta, com lama pelo corpo (Foto © Melissa Groo)

Nas florestas da África Central e Ocidental vivem populações de uma espécie bem menos conhecida de elefantes, os elefantes africanos da floresta (Loxodonta cyclotis). Menores do que os elefantes africanos da savana (Loxodonta africana) e os elefantes asiáticos (Elephas maximus), esses elefantes têm presas mais finas e mais retas e seu marfim é mais firme e mais róseo, o que o torna ainda mais desejado e valorizado pelos artesãos e comerciantes de objetos de marfim.

As três espécies de elefantes são os restos do que já foi uma rica árvore genealógica. Os elefantes evoluíram por mais de 50 milhões de anos, de pequenas criaturas a animais de porte cada vez maior, de vida longa, que dependem de deslocamentos através de grandes distâncias em busca de comida, água, minerais e parceiros sociais e reprodutivos. Infelizmente, devido à escalada do preço do marfim, seu futuro é cada vez mais incerto.

As diferenciadas presas que ostentam os pequenos elefantes africanos da floresta os tornaram alvo dos caçadores ilegais e, hoje, essa espécie é a mais ameaçada das três. Estudos apontam um declínio de 60% em sua população nos últimos dez anos.

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O maior mamífero terrestre de nosso planeta, o elefante africano da savana, com presas que podem chegar a quase 100 quilos cada, também está sendo massacrado por causa de seu marfim: apenas no ano passado, estima-se que tenham sido mortos entre 40 mil e 50 mil elefantes africanos da savana. Isso pode representar mais do que 10% da população remanescente da espécie. Ambas espécies somavam juntas, em 1979, 1,3 milhão de elefantes. Em 2008, os números já indicavam um acentuado declínio na população: cerca de 100 mil a 160 mil elefantes africanos da floresta e de 490 mil a 575 mil elefantes africanos da savana. No sul do Sudão, a população de elefantes, estimada em 130 mil em 1986, caiu para 5 mil no ano passado.


Elefantes africanos da savana (Loxodonta africana) no Parque Nacional Amboseli, Quênia (Foto © ElephantVoices)

A África está no centro de uma chacina de elefantes sem precedentes e as duas espécies podem chegar à extinção em pouco tempo, caso não seja interrompido o comércio de marfim e sufocada a rede relacionada a ele, formada por caçadores – a serviço de grupos armados que usam as presas dos elefantes para sustentar suas violências -, contrabandistas, artesãos, comerciantes e consumidores.

A China é responsável pelo entalhe e pelo comércio da maior parte dos objetos vendidos no mundo. Devido a uma forte demanda, fomentada pelo aumento de renda na Ásia e pelos costumes culturais, o preço do marfim está muito elevado, e cada vez mais pessoas entram no negócio. Em dezembro de 2012, o quilo do marfim bruto na Bacia do Congo valia 300 dólares (R$590) e na China 2.900 dólares (R$5.700). Um pequeno pingente era vendido por cerca de 800 dólares (R$1.570) em lojas chinesas.

Os cidadãos chineses não possuem informações claras sobre o massacre dos elefantes. Muitos acreditam que as presas caem naturalmente ou que vêm de elefantes que morreram naturalmente. Mas 90% do marfim no mercado vem de elefantes mortos ilegalmente. O governo chinês está sendo pressionado a tomar as atitudes necessárias, proibindo o entalhe e o comércio de marfim. Assim, a vida de dezenas de milhares de elefantes podem ser salvas. “Cada nova presa no mercado significa morte, trauma e destruição. A caça ilegal compromete a biodiversidade e ameaça o turismo, a sobrevivência das pessoas e a estabilidade de muitos países”, afirma Joyce Poole, cofundadora da ONG ElephantVoices e renomada especialista em elefantes.

A ElephantVoices executa projetos de conservação no Quênia e agora inicia uma campanha mundial para atingir a China e consumidores no mundo todo. Para isso, a artista nova-iorquina Ashley Jay criou ilustrações com palavras em chinês e inglês. A mensagem é clara: os elefantes serão extintos a curto prazo se não for interrompido, imediatamente, o comércio de marfim. “A única maneira de parar a matança de elefantes é sufocar a demanda por marfim e parar o comércio”, diz Poole.


Uma das ilustrações da campanha. 中国 Zhōngguó significa China. O poder da estrela é necessário para salvar os elefantes africanos do extermínio. Ilustração de Ashley Jay

A campanha está sincronizada com a conferência da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, a CITES. Na abertura da convenção, em 3 de março, em Bangcoc, a Primeira Ministra da Tailândia Yingluck Shinawatra prometeu proibir o comércio de marfim no país, onde o proveniente de elefantes domesticados é legalizado e quantidades gigantescas de presas de marfim contrabandeadas da África são entalhadas e vendidas como se fossem marfim legal. O país só fica atrás da China como responsável pelo fomento do massacre de elefantes na África.

A convenção discute um mecanismo para o comércio de marfim, mas a decisão não será tomada antes de 2015. Conservacionistas temem que a simples discussão de uma política para o comércio de marfim estimule ainda mais sua demanda. “Em 1989, os elefantes estavam quase extintos e a CITES proibiu o comércio de marfim. Porém, aprovou vendas de estoques apreendidos para a China e para o Japão, criando um novo holocausto para os elefantes”, afirma Petter Granli, diretor executivo do ElephantVoices.

Os elefantes asiáticos, cuja maioria não tem presas, também são caçados por causa do comércio de marfim. Porém, a maior ameaça à sobrevivência da espécie é a retirada de indivíduos da natureza para trabalharem em turismo na Tailândia. Entre 50 e 100 filhotes e fêmeas jovens de elefantes são removidos de suas florestas natais em Mianmar a cada ano, para serem comercializados ilegalmente e suprir campings de turismo na Tailândia. O Laos, antes conhecido como “a terra de um milhão de elefantes”, hoje tem apenas entre 300 e 500 elefantes selvagens.

(Junia Machado, da ONG ElephantVoices)


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